sexta-feira, 2 de maio de 2008

Arte Comestível (?)

Veja um dos exemplos de objetos artísticos feitos com comida. Vocês seriam capazes de criar alguns com conteúdo semântico relevante, como este que parece ser um pão pedindo o pão de cada dia? Vejam também algumas outras obras neste link e, se quiserem, publiquem nos comentários um conteúdo semântico cabível para algumas das obras apresentadas no referido link.

A História da Representação da Mulher na Arte

Vejam acima um belíssimo vídeo com a história da representação da mulher na arte.

Momento para Relaxar: a lógica circular do evolucionismo

A imagem acima, que se relaciona com o post anterior, já foi bastante divulgada na Net, mas vale a pena colocá-la por aqui, pois demonstra um esforço artístico (afinal é uma obra de arte visual) de representar um ciclo: do evolucionismo ao involucionismo. Como representação de uma teoria (que, particularmente, considero falsa), é uma grande idéia, não acham?

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Momento para Relaxar: a arte e o criacionismo

"De uma vez por todas, deixem de me seguir! Eu sou criacionista."

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Momento para Refletir: qual a relação entre forma e conteúdo nas Artes Visuais?

Para o cartunista Bob Flynt, grande parte do que faz um personagem ser inesquecível é o seu design. Se é assim, será que vocês são capazes de identificar cada uma das silhuetas acima? Ah, para ver os desenhos em tamanho maior, é só clicar sobre eles.
As respostas estão nos comentários, mas não vale lê-las antes de tentar descobrir sozinhos, certo?
Abs.,
TL

Aviso: aula do dia 02.05.2008

A aluna Anna Débora, entre outros, fez a seguinte pergunta:

"Professor!Vai ter aula sexta-feira dia 2? ou o senhor vai imprensar? gostaríamos de saber...Anna Débora"

Como muitos perguntaram a mesma coisa, resolvi colocar a resposta no blog:

"Embora muitos alunos tenham me pedido para 'imprensar' a sexta em decorrência do feriado da quinta, eu resolvi ir ao DEART na manhã do dia 02.05.08, mas dedicarei o tempo da aula a tirar as eventuais dúvidas de alunos queiram ir a universidade com esse fim. Dessa forma, respondendo a pergunta diretamente, digo que não haverá aula propriamente dita, mas estarei lá para resolver eventuais questões e problemas que os alunos apresentem."

Por fim, aproveito a oportunidade para postar uma imagem de uma sala de aula bastante peculiar. Um dia chegaremos lá.

Abs.,

Lycurgo

Décima Oitava Questão: a manipulação do signo

A criatividade, aliada à reflexão, não tem limites. Individualmente ou em grupo de duas pessoas, vocês devem tentar subverter um signo visual conhecido e, depois, mandar a figura para o meu email, para que possa postar neste blog. Veja, por exemplo, na figura acima, uma manipulação de um dos signos mais repetidos e que, mesmo assim, ainda sofreu a intervenção do pensamento... Isso é que é genialidade na arte visual. A autoria da imagem é desconhecida.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Momento para Relaxar: diga o que sente...

"Nunca tenha medo de dizer o que sente.
Você só pode morrer uma vez!"

domingo, 27 de abril de 2008

Décima Sétima Questão: A Arte e a Farsa

A farsa pode ser tomada como uma forma artística de subverter o mundo da arte? Para responder a tal pergunta, além de refletir sobre a postagem anterior, leia sobre a exposição "Geijitsu Kakuu", realizada em 2006 pelo artista cearense Yuri Firmeza, que criou o personagem fictício de um artista famoso japonês, tendo a atenção de toda imprensa cearense, como se verdade fosse. Para saber mais, pesquise na Internet, leia os textos disponíveis aqui e o que transcrevo logo abaixo.

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Adorável invasor
Matéria de Ricardo Sabóia, Fortaleza, originalmente publicada no sítio Overmundo

Como um vírus, Yuri Firmeza infiltrou-se na mídia e expôs as fraquezas de uma imprensa que, com raras exceções, mostrou-se incapaz de fazer uma autocrítica vigorosa.

O sobrenome de Yuri não poderia ser mais apropriado. Sua mais recente obra de arte é uma iniciativa que divide opiniões, mas não pode não ser classificada de firme. Ele criou um artista japonês fictício, batizado de Souzousareta Geijutsuka ("artista inventado" em japonês, segundo ele) e a exposição de arte e tecnologia Geijitsu Kakuu ("Arte e ficção"), programada para ser inaugurada na última terça-feira, no Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MACCE) do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, pólo referencial das artes no Ceará.

Yuri também criou uma assessora de imprensa igualmente fictícia, batizada de Ana Monteja, que abasteceu a mídia local com press-releases sobre a exposição e o suposto artista japonês. Conseguiu até emplacar uma entrevista na capa do caderno de cultura do jornal de maior circulação no Estado, o Diário do Nordeste, só para usuários cadastrados. Tudo com o aval do Dragão do Mar, a "isca" que a imprensa precisava para ser fisgada pelo artista.

A surpresa veio com a revelação, no dia seguinte à publicação dos textos noticiosos divulgando a exposição fictícia, de que Souzousareta, apresentado como renomado artista contemporâneo internacional, com quatro passagens pelo Brasil e mostras em Tóquio, Nova York, Berlim e São Paulo, nunca existiu e não fora do projeto artístico de Yuri e das páginas dos jornais, pelo menos.
No MACCE, o projeto de Yuri, correspondente à quarta edição da série Artista Invasor, ganhou a sala supostamente destinada às obras de Souzousareta. Lá, estão expostos e-mails trocados entre o artista e o sociológico Tiago Themudo, com quem Yuri dialogou na concepção do projeto, e um texto de apresentação (em português e inglês) de Souzousareta ao público, escrito pelo diretor-técnico do MACCE, Ricardo Resende.

No debate Chá com Porradas, promovido pelo Centro Dragão do Mar na última quarta-feira, Yuri declarou: 'Os jornais de hoje (quarta-feira) confirmam o descaso, comprovam que não têm seriedade. Seduzi os jornais do mesmo modo que eles seduzem o público. A obra é uma situação".
A "situação" criada por Yuri busca refletir as complexas relações entre o status da arte contemporânea e seu posicionamento com outras instâncias, como os espaços de museus, galerias de arte e a cobertura midiática. "Queria discutir o museu como espaço de conservação simbólica e outras questões que não sejam propriamente estéticas. Aí entrou a questão da mídia, do mercado, das galerias. Uma invasão que não se limitou ao status museológico, mas a todo um sistema em que ele está inserido. E a mídia é o principal sistema", afirma. Outra preocupação do artista era revelar o descaso da cobertura da imprensa local com os artistas contemporâneos cearenses: "Falta um acompanhamento sistemático da produção contemporânea, de artistas que expõem em projetos importantes aqui e em outros Estados", enfatizou.

Questionado pelo Overmundo sobre os métodos empregados no seu processo de criação, duramente criticados pela imprensa, Yuri afirmou: "No meu caso, a invenção do artista é o próprio trabalho. O suporte era o jornal. Faltou humor da imprensa. Ela não teve iniciativa de se sentir como co-autora da obra. Os jornais se sentiram afrontados, viram que são vulneráveis a esse tipo de invasão. Não existiu uma auto-reflexão da imprensa."

Ainda no Chá com Porradas, o diretor do MACCE defendeu o artista: "A ousadia de Yuri talvez seja demais para os nossos padrões. Ele veio com uma proposta ousada, de testar os limites da instituição. "A obra de Yuri não se encerrou com a revelação de que Souzousareta é fictício: "Até fevereiro, faremos na sala do MACCE um acúmulo das matérias publicadas, o vídeo do debate no Museu".

Se a estratégia de Yuri não chega a ser propriamente uma novidade e pensemos no pronunciamento dos ataques de invasão da Terra por marcianos descrita em A Guerra dos Mundos e apropriadas por Orson Welles em discurso radiofônico, ou mais recentemente, no escritor JT Leroy, sua iniciativa despertou ataques de quem mais se sentiu ofendida por seu projeto artístico: a imprensa local ironicamente, quem viabilizou em última instância sua obra.
Em um primeiro momento, os jornais preferiram desqualificar o artista e o Centro Dragão do Mar. O Diário do Nordeste publicou texto na última quinta-feira cuja manchete classifica o projeto de "factóide", sugerindo que o Dragão do Mar comprometeu o "vínculo de credibilidade estabelecido junto aos veículos de comunicação e a sociedade cearense."

A reação na edição do mesmo dia do concorrente O Povo foi ainda mais agressiva: além de um texto informativo registrando aos leitores que a exposição era uma "pegadinha contemporânea", artigo assinado pelo jornalista Felipe Araújo classificava a obra de "molecagem" e não deixa de ser curioso que a molecagem, tão celebrada como marca identitária cearense, torna-se algo pejorativo quando põe em xeque o funcionamento da imprensa local. No texto, sobram ataques para a arte contemporânea no Ceará. "Com algumas caras exceções, uma arte pobre, recalcada e alienada, feita por moleques que confundem discurso com pichação" e corporativismo com os pecados da imprensa na cobertura do circuito artístico local.

Onde houve excesso de verborragia para desqualificar o artista e o Centro Dragão do Mar, faltou autocrítica incisiva para debater a ausência de uma imprensa responsável e especializada e questionar o uso do release por jornalistas, questão que vai muito além da "boa fé" dos profissionais de imprensa.

O diretor Ricardo Resende rebate as acusações de que o Dragão do Mar foi irresponsável em apoiar a iniciativa do artista. "Em nenhum momento a gente se eximiu da responsabilidade. O Yuri impôs, entre algumas regras, que a gente ficasse fora da divulgação. Quando a imprensa presssionou por informações, achamos que era hora de convocar o Yuri para falar. O Dragão não mentiu para imprensa, omitiu para viabilizar o projeto", declarou ao Overmundo. E sentencia: "Houve uma cegueira da imprensa. Os jornalistas estavam interessados porque era um japonês consagrado, artista que trabalha com arte eletrônica. Mas entendo que isso não seja um erro apenas da imprensa local, é da imprensa brasileira em geral."

A polêmica não arrefeceu. O mesmo jornal O Povo, que em edição de ontem publicou matéria de capa do caderno de cultura Vida&Arte dando voz ao artista e ao MACCE, acompanhada de um sensato artigo da jornalista Regina Ribeiro analisando criticamente o episódio, não hesitou em publicar editorial classificando a obra de Yuri de "Provocação Infeliz". O texto reconhece que a imprensa local "não sai ilesa" do episódio e diz que "em plena era da Internet não custava nada uma checagem em torno do nome divulgado", mas não poupa o artista de mais ataques, sugerindo que ele "extravasou suas frustrações e recalques na mídia". A afirmação revela justamente o que Yuri procurou mostrar: quem está precisando de um divã, efetivamente, é a imprensa cearense.

Trechos de e-mails enviados por Yuri Firmeza a Tiago Themudo:

"Olha aí, Tiago, e diz o que acha; A ocupação da sala será da seguinte forma: irei inventar um artista, biografia, currículo, obras; tudo ficção... Não sei como será a receptividade do público em relação ao Souzousareta, mas acredito que suscitará saudáveis desconfortos"

Aviso: mais polêmica sobre a morte do cão

O aluno Leandro Alves Garcia, pesquisando na Internet, se deparou com uma notícia que traz mais complicações para o enfrentamento da questão da morte do cão. A notícia segue abaixo e foi retirada do portal G1, podendo ser diretamente acessada por este link.

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WWW.G1.COM.BR O PORTAL DE NOTÍCIAS DA GLOBO
23/04/2008 - 11h42 - Atualizado em 23/04/2008 - 11h53
Artista não revela se deixou cão morrer de fome em instalação
Costa-riquenho Guillermo "Habacuc" Vargas falou ao G1 sobre "Exposición nº 1".Galeria em Honduras que abrigou instalação afirma que cachorro fugiu.
Shin Oliva Suzuki Do G1, em São Paulo
entre em contato

Arquivo pessoal
O cão batizado de Natividad na instalação 'Exposición nº 1' (Foto: Arquivo pessoal)
Nas últimas semanas vem sendo repassado um abaixo-assinado na internet contra a participação do artista costa-riquenho Guillermo "Habacuc" Vargas em uma bienal da América Central. O motivo da petição on-line é uma instalação artística em que Habacuc supostamente deixa um cão de rua morrer de fome, à vista do público, o que causou revolta e protestos entre ativistas da causa animal.

Intitulado "Exposición nº 1", o projeto foi exposto em uma galeria da Nicarágua em agosto do ano passado, acompanhado de uma crescente polêmica. A obra foi inspirada na morte de um imigrante nicaragüense, Natividad Canda Mayrena, de 24 anos, devorado há dois anos por dois cães rottweilers de uma oficina de Cartago, cidade da Costa Rica. Esse ocorrido foi filmado por câmeras de TV, e policiais que estavam no local disseram que não poderiam intervir atirando contra os cães porque a vítima seria atingida.

Habacuc, um artista de 32 anos que tirou seu apelido de um profeta bíblico, "porque soa bonito", montou "Exposición nº 1" usando cinco elementos que remetiam à morte do imigrante: a gravação do hino sandinista (movimento político nicaragüense) tocado ao contrário, um "incensário" onde se queimaram pedras de crack e alguns gramas de maconha, um cachorro que ganhou o nome de Natividad na obra, comida para cachorro (com biscoitos que formavam a frase "Você é o que você lê") e a representação dos vários tipos de mídia.

Diferentemente do que diz o e-mail que circula com o convite para abaixo-assinado, ele não foi selecionado para Bienal de Arte Centro-Americana de Honduras por causa da instalação sobre Natividad. O comitê da Costa Rica, que selecionou o nome de Habacuc para representar o país no evento, emitiu um comunicado dizendo que não houve nenhuma tipo de avaliação relacionada a "Exposición nº 1". E, portanto, não repetirá "Exposición nº 1" em Honduras.

Onda de manifestações
Não tardou muito para se formar uma onda de manifestações contra Habacuc e a própria galeria nicaragüense Códice - que abrigou "Exposición nº 1" - após o surgimento em blogs e sites diversos das fotos de Natividad, o cão, que foi recolhido nas ruas de Cartago. Uma jornalista, Rosa Montero, escreveu um artigo no prestigiado jornal espanhol "El Pais" em que condenava o projeto do artista costa-riquenho e convidava os leitores a participar do abaixo-assinado.

Arquivo pessoal
Instalação gerou protestos na internet (Foto: Arquivo pessoal)
"A repugnante montagem de Habacuc reabre as questões dos limites da arte, ou, como sob a desculpa do feito artístico, se podem cometer todo tipo de abuso que em realidade somente busca chamar atenção [...]", dizia um trecho do texto.

Em entrevista ao G1, por e-mail, questionado sobre os limites que a arte tem, Habacuc responde suscinto: "Você acredita que a exploração, a xenofobia, o ódio aos pobres e, em geral, as relações com o poder são produto da arte?". O artista também comenta as reações inflamadas sobre sua obra: "são delirantes, reflexo de um mal-estar que tem raízes no dia-a-dia de das pessoas e que se pretende fazer passar por solidariedade com os demais seres; se eu estivesse errado, não haveria tantos seres humanos e animais na indigência".

A morte do cachorro Natividad foi dada como certa por muitos que se depararam com a história acerca da instalação, mas a verdade é bem mais nebulosa - uma farsa pode ser a explicação para a "realização" da obra. Habacuc responde por escrito apenas que "Natividad morreu, os meios foram cúmplices", sem especificar qual Natividad morreu. Ele justifica a frase ambígua dizendo que "desconfia das mensagens claras". "Assim quero deixar uma dúvida clara. O pior que pode acontecer com uma obra é não produzir nada no espectador, por isso a obra não terminou no sentido de que seguem falando dela".

Arquivo pessoal
Instalação foi inspirada em morte de imigrante nicaragüense (Foto: Arquivo pessoal)
Procurada pelo G1, a diretora da Galeria Códice, Juanita Bermudez, se recusou terminantemente a dar entrevista, mas encaminhou um texto em que esclarece, na visão da instituição, o que aconteceu com o cão Natividad nos dias em que a instalação esteve aberta.

"O cão permaneceu no local por três dias, a partir das cinco da tarde da quarta-feira, 15 de agosto [de 2007]. Esteve solto o tempo inteiro no pátio interior, exceto pelas três horas que durou a mostra, e foi alimentado com comida canina que o próprio Habacuc trouxe. Surpreendentemente, ao amanhecer da sexta-feira, 17, o cão escapou passando pelas vergas de ferro da entrada principal do imóvel, enquanto o vigilante noturno que acabava de alimentá-lo limpava a calçada exterior do local", afirmava o comunicado assinado pela própria Juanita.

"Eu pensava em ficar com Natividad, mas ele preferiu retornar ao seu habitat", completava o texto.

Opiniões
Para a professora aposentada da USP e uma das mais respeitadas arte-educadoras do país, Ana Mae Barbosa, pensa que "Exposición nº 1" "extrapola os limites da ética no sentido de que mantém um ser vivo propositadamente preso, à beira da inanição. O objetivo é extremamente político. Não tenho nada contra a relação da arte com a política nem contra usar a arte para protestar politicamente, mas, na minha opinião, o artista incorreu em um erro".

"Mesmo se tudo isso for uma farsa, pode ser extremamente perigoso. Uma farsa vai induzir a uma interpretação [da obra] farsante. É um tipo de provocação que passa dos limites da educação humanística", completa Ana Mae.

A artista, pesquisadora e professora da Universidade de Caxias do Sul (RS) Diana Domingues, especializada em arte contemporânea, também concorda. "Em qualquer campo da atividade humana deve haver respeito à ética. A própria arte cobra esse respeito", diz.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Momento para Refletir: A Arte e a Política

O cartaz acima, de autoria do artista Zeh (veja outros cartazes no excelente blog "Semana em Cartaz"), é uma manifestação relativa ao aumento da popularidade do presidente da República. Não há dúvidas de que é uma arte que almeja ter fim social (de mudança da sociedade), mas o interessante a saber é se o caráter social é ou não elemento central da obra. Ora, não creio que ela venha a influenciar a popularidade do Sr. Lula, mas, também, não penso que isso diminuirá a importância do cartaz em questão. Assim, uma obra artística que se diga com função social e que não tenha a menor efetividade no que diz respeito ao que almeja, ainda pode ser considerada arte? Ou, do contrário, há elementos na obra que são independentes de seu intuito social os quais são suficientes para garantir o seu caráter artístico e a mencionada função social nada mais é do que característica secundária, adjacente da obra, não servindo para caracterizar algo que possa ser entendido como função social da arte? O que pensam?

Aviso: filme "Cinema Paradiso"

Nesta sexta-feira (25.04.08), continuaremos a discutir a forma pela qual a arte pode mostrar (ou dizer?) o amor. Para tanto, começaremos assistindo ao filme Cinema Paradiso, que relata uma história de amor paternal entre Alfredo e o garoto Toto.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Décima Sexta Questão de 2008.1: O Amor

O tema de discussão tanto da última quanto da próxima aula foi e será o amor. Particularmente, escrevi algumas palavras a respeito (v. blog "Crônicas de Tassos Lycurgo"), as quais reproduzo abaixo. Gostaria, contudo, que vocês refletissem mais sobre a questão e pensassem se é possível para a arte dizer o que é o amor ou, do contrário, o máximo que ela pode fazer é mostrá-lo. Naturalmente, é preciso que você use a distinção entre dizer e mostrar, construída em sala de aula.

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O Amor
Por Tassos Lycurgo

Cicinho e Cicinha nasceram na serra. Dia, noite e mais outros tantos. No fim de tudo, Seu Ciço, setenta de seis; Dona Ciça, sessenta e oito; ambos, somados, mais de quatro mil. Ei-la, inconfundível, a aritmética da vida: é o tempo que passa menos aqui do que acolá, na esquina do outro lado da rua, onde está toda a matemática que importa. Dos dezenove filhos de Dona Ciça, sobraram sete. Dos outros doze, há tanto de se contarem mortes de doença quanto de ruindade. Dos que ficaram, cinco são bons; dois, cabras-de-peia mais brabos que onça e mulher sem muito estilo juntas: um exagero sem exageração visto que é verdade.

Seu Ciço é mais que muito feliz, felicíssimo. Dona Ciça, também, talvez. Ela não mostra muita emoção, é taciturna demasiadamente Cariri. Seu Ciço faz muito pois é agricultor. Planta. Planta. Planta. Colhe: uma vez para três, mas não reclama não. Planta na serra mesmo, tudo inclinado: o terreno, a plantação, a chuva, o chapéu de palha, a enxada e o pensamento. Pensamentos inclinados poderiam tornar o mundo todo de ladeira: nada reto, que dá sono demais e não serve muito.

Dona Ciça fica em casa e trabalha nas coisas pequenas mas mais que grandes: costura, cozinha, cuida das crianças, ora aos montes, que ficam e que vão. Cria as que consegue com seu código particular de entender a vida: café, farinha, feijão, cuscuz, batata, algum frango e o resto é apenas moralidade inata. Certa vez mandou o menor, de quatro anos há pouco cumpridos, deixar a marmita na roça para o pai comer. Foi, subiu a serra, mas fez tarefa pela metade, pois voltou e disse para mãe que tinha visto cobra jararaca no caminho. Não matou?! Perguntou-lhe Dona Ciça, quem, em face da negativa, mandou que voltasse e matasse pois quem já se viu deixar marmita e, na volta, não matar bicho peçonhento. Criança de quatro anos, dentro dos cinco, já devia saber disso.

Seu Ciço e Dona Ciça envelheciam mais e mais. Nunca tiveram aqueles questionamentos do subsolo, chamados de metafísicos pelos estranhos. Nunca, nem uma vez quando conversavam. Chegaram, é verdade, a pensar de onde vem o vento, mas logo sentiram que o movimento é a essência de tudo que está na serra. Na ladeira tudo corre para baixo. Era o Heráclito de hoje e, com base no espaço ladeirento explicava do sol ao sono e mais todas as palavras da letra esse e também das outras do alfabeto, exceto as da letra agá, que nem aparece no nome.

Certo momento, chegou o tempo de morrer dos dois. Seu Ciço foi antes. Morreu e pronto. Estava salvo há muito. Dona Ciça, logo no outro dia, teve raiva dele: deixou-a lá, depois de tanto sofrimento, tanta alegria e tanto cuscuz que fez quando tinha milho, que, graças a Deus, era quase sempre. Teve ódio, ira, rancor, raiva e tudo o mais de ruim que um coração frágil da serra suportaria. Maldisse Seu Ciço umas quinhentas mil vezes ou mais, se considerarmos o reflexo da velha que ora se fazia no açudinho que lutava contra filete de riacho que descia de uma nascente do alto da serra.

Uma semana depois, não tinha mais raiva. Dona Ciça tinha uma sensação estranha de pensar o que nunca pensara: a vida. Eram, nascendo na decrepitude, os pensamentos do subsolo. Quase oitenta anos mais que noventa e tudo assim tão rápido. Um dia, um ano, uma década, uma vida todinha, sem faltar quase nenhum pedaço. E aquelas reclamações e todos aqueles problemas impossíveis do tamanho da serra toda hoje cabiam juntos em qualquer um desses buracos da parede.

Dona Ciça entendeu a vida para começar a morrer aos poucos. Via a ladeira da serra e, com base na inclinação, não conseguia explicar o que tinha acontecido com ela: a vida vivida todinha sempre sem explicação. Sempre o fundamento da realidade ladeirenta lhe fora suficiente para tudo o que existia — menos para a existência de tudo — e, agora, além de Seu Ciço ter abandonado a vida e a serra, a própria ladeira da serra abandonava Dona Ciça e não mais explicava o mundo.

Respirou, respirou mais uma vez e a última: então também morreu. Nunca, até agora, alguém havia contado a história deles, que é uma história, apenas, sem outras coroas senão a maior de todas: a de conseguir mostrar o que a linguagem, com suas palavras desesperadas, não poderia dizer, pois é inexplicável até pelas ladeiras de todas as serras, mas que está presente naqueles cujas vidas são como os poemas que apenas por trás das tintas das palavras e das celuloses dos papéis denunciam o verdadeiro amor. De Seu Ciço e Dona Ciça, restou a comprovação de que o amor, assim como tudo o mais que é pensamento do subsolo, não é dizível, mas apenas pode ser mostrado para os que já o sentem e silenciam no sofrimento de viver com a maior sina da nossa linguagem: a de apenas poder dizer o que é verdadeiramente desimportante e medíocre e que, portanto, muita vez nem precisaria ser dito.

Momento para Refletir: Existe Função Social na Arte?

As Artes Visuais podem submeter-se a ideologias e, assim, servirem de meios para provocação de mudanças na sociedade? Ou, do contrário, imagens como a acima exposta não podem ser consideradas arte e, uma das razões para tal, é que têm uma função social (no sentido de ser um instrumento de mudança do comportamento e da sociedade). Qual a sua opinião a respeito?

sábado, 19 de abril de 2008

Momento para Refletir: O inusitado pode vir do simples e criativo

O inusitado pode vir do simples e criativo

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Aviso: filme "Em Nome de Deus"

Amanhã, assistiremos ao filme "Em Nome de Deus" (Stealing Heaven, no original). A temática da discussão que teremos será o amor e, naturalmente, a de como ele se projeta na obra de arte, além de alguns outros temas correlatos.
(A obra acima é "Les Amours d'Héloïse et d'Abélard", de Jean Vignaud, 1819).
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Sinopse: "História verídica dos amantes Abelard e Heloise que viveram na França do século XII. Ele, mestre em teologia que fizera voto de castidade; ela, uma linda jovem da aristocracia que vai a Paris estudar. Nas aulas, os dois se apaixonam intensamente, vivendo o romance escondidos da sociedade e do clero manipulador, que não aprovava as idéias avançadas do mestre Abelard. Quando todos descobrem a verdade, Heloise, grávida, vai morar com a irmã no interior da França e Abelard continua lecionando em Paris. Então, uma terrível vingança muda o destino dos amantes para sempre". (texto retirado daqui).
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Trecho de Carta de Aberlado para Heloísa:

"Fujo para longe de ti, evitando-te como a um inimigo, mas incessantemente te procuro em meu pensamento. Trago tua imagem em minha memória e assim me traio e contradigo, eu te odeio, eu te amo."

Trecho da Carta de Heloísa para Aberlado:

"É certo que quanto maior é a causa da dor, maior se faz a necessidade de para ela encontrar consolo, e este ninguém pode me dar, além de ti. Tu és a causa de minha pena, e só tu podes me proporcionar conforto. Só tu tens o poder de me entristecer, de me fazer feliz ou trazer consolo."
(Retirado de Correspondência de Abelardo e Heloísa. Trad. por L. S. Martins. São Paulo (SP): Martins Fontes, 2000, p. 41.
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Detalhes do filme:
Título Original: Stealing Heaven
Diretor: Clive Donner; Elenco: Derek DeLint , Kim Thomson , Denholm Elliot
Ano: 1988; Origem: GB/Iugoslávia

domingo, 13 de abril de 2008

Momento para Refletir: O pato e a lebre

Segue uma das mais clássicas gravuras de dupla interpretação, que, levada ao extremo, contribui para o entendimento de que a obra de arte, em última instância, se realiza na nossa cabeça... E viva o solipsismo artístico!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Décima Quinta Questão de 2008.1: "Minha Vida sem Mim" e "A Terceira Margem do Rio"

Em que sentido Ann, personagem de Sarah Polley no filme "Minha Vida sem Mim", esteve na terceia margem do rio? Para entender melhor a questão, reflita sobre o conto "A Terceira Margem do Rio", de J. Guimarães Rosa.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Aviso: filme "Minha Vida sem Mim"

Amanhã, assistiremos ao filme "Minha Vida sem Mim" , também sobre o qual algumas questões serão posteriormente elaboradas. Se quiser, veja o trailer (em inglês) acima ou leia os detalhes do filme (em português).

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Momento para Relaxar: o bezerro de ouro e as desculpas artísticas

Das funções da escultura...

Décima Quarta Questão de 2008.1: Ainda sobre a arte e a morte do cão

O Professor J. A. Callegari (foto), um amigo do RJ e grande estudioso de vários assuntos, enviou-me um email com considerações sobre a polêmica Décima Primeira Questão de 2008.1. Resolvi publicar o email logo abaixo. Leiam-no e, depois, nos comentários, teçam considerações sobre cada ponto levantado, concordando ou discordando das opiniões expostas. Quero ver argumentos fortes, assim como o debate.

Abs.

Lycurgo

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De: José Callegari [mailto:...@....com.br]
Para: Tassos LYCURGO [tl@ufrnet.br]
Enviada em: terça-feira, 8 de abril de 2008 09:21
Assunto: A questão da morte do cachorrro

A questão da morte do cachorro diante do público desperta alguma consideração.

Primeira, o domínio do conhecimento. Presume-se que o artista tenha o domínio da arte que expressa. De tal forma, o expectador não ousa infringir certo código de ética diante do senhor da obra estética. Uma reprodução da dominação e do exercício do poder.

Segunda, a inércia coletiva igual a dos guinus. Convivem harmoniosamente, a poucos metros do leão, com a certeza da morte. Não há comoção exterior. Só o pânico.

Terceira, existe uma classificação para os tipos de vida? Alguém teria o direito de selecionar quem poderia viver ou não? Assim começam os fundamentos para o holocausto. Sob um argumento de ser aceitável a morte de um ser "inferior" de outra espécie não se justificaria mais tarde o argumento "aceitável" da morte de seres da mesma espécie de raças diferentes (inferiores)?

Quarta, vencer o status quo implica tomada de posição e luta. Como proceder desta forma diante de uma civilização consumista e individualista?

Quinta, o artista expressou uma manifestação sádica do prazer do expectador em presenciar a morte e mais ainda a sensação quase eufórica de assistir ao “espetáculo” de sofrimento e dor cujo clímax é a morte. As arenas romanas não estariam simbolizadas nesta manifestação grotesca e também de alguma forma nos estádios de futebol?

Sexto, quem sabe o artista pretendeu provocar uma reação do público prevendo que alguém se aventurasse a transgredir a ordem aparente das coisas e com a violação desta ordem salvasse a vida em perigo? Não foi uma demonstração explícita da dificuldade de fazer agir quem vive mecanicamente sob as determinações cogentes da ordem socio-político-jurídica sem reflexão e capacidade de reação?

Muitas indagações e reflexões podem ser produzidas.

Sobre a questão da censura do terço erótico, não teríamos aí uma demonstração explícita da defesa de ícones religiosos que dominam as mentes não reflexivas? Os ícones tendo uma função simbólica de dominação e não de representação da mensagem religiosa passada por Jesus e seus seguidores? Não seria uma forma de defesa do satus quo da igreja e de seus símbolos, sem a consciência de que o mais importante seria praticar os ensinamentos do evangelho?

Tassos,

Seus temas para reflexão são extremamente instigantes. Permitem transitar por vários segmentos da vida de relação.

A estética como manifestação e produção cultural na qual se condensam vários tipos de discursos.

Um grande abraço do seu amigo

Callegari.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Décima Terceira Questão de 2008.1: Arte(sanato) funcional e moralidade

Na sua opinião, qual a diferença entre arte e artesanato? Os tapetes feitos de pele de animais de estimação, como os de autoria de Ondrej Brody, acima expostos, podem ser considerados arte, artesanato ou algum terceiro gênero? É preciso levar em conta questões morais para se determinar a natureza artística das referidas obras? Reflita sobre o assunto e fundamente as suas respostas.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Momento para Refletir: mesmo no mundo de hoje, o hiperrealismo tem vez

Mesmo no mundo de hoje, o hiperrealismo (como o de Ron Mueck) tem vez. Vejam as incríveis esculturas deste artista australiano.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Momento para Relaxar: o "do contra"

Eis o famoso Sr. "Do Contra".

Décima Segunda Questão de 2008.1: as três revoluções da arte e a moralidade

Com base em que argumentos do texto “As três revoluções da arte”, de autoria de Orlando Fedeli (que é ferrenho defensor do Catolicismo Ultra-tradicionalista), a obra “O Terço Erótico” (v. Décima Questão) seria imoral?

Aviso

Informo que não haverá aula de Estética Filosófica na próxima sexta-feira (04.04.2008). Como atividade compensatória, deve-se cuidadosamente ler o artigo "As Três Revoluções da Arte", sobre o qual muitas das próximas questões versarão.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Décima Primeira Questão de 2008.1: O "Eres lo que lees" e a Moralidade

Em 2007, o artista Guillermo Habacuc Vargas, da Costa Rica, expôs Natividad, um cão faminto e com muita sede, em uma galeria de artes. Na parede, acima do cão mas fora de seu alcance, o artista escreveu com ração a frase “Eres lo que lees”. A idéia era deixar o cão morrer de fome e sede. A obra, diferentemente de “O Terço Erótico”, não foi censurada e o cão, efetivamente, morreu na frente de todos, finalizando assim a performance artística planejada pelo artista. Para saber mais sobre o caso, clique aqui. Para ver mais fotos, clique aqui.
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Quanto à questão, ela é a seguinte: A omissão em não censurar a obra (salvando a vida do cão) foi correta ou, do contrário, o cão deveria morrer em nome da liberdade de expressão artística? Fundamente a sua resposta.
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Note que esta questão é a primeira da 2AV e vale dois pontos, de acordo com o exposto na seção "Avaliações" do site da disciplina.

domingo, 30 de março de 2008

Momento para Relaxar: Cenas que gostaríamos de ver

Para o mundo deixar de ser tão repetitivo, segue um exemplo das cenas que gostaríamos de ver.

Décima Questão de 2008.1: O "Terço Erótico" e a Moralidade.

O próximo tópico a ser debatido será o da relação entre arte e moralidade. Para esquentar os debates, resolvi colocar na Décima Questão (a última da 1ª avaliação de 2008.1) algo correlato. Assim, segue a imagem de dois terços compondo dois pênis em forma de cruz, da obra “Terço Erótico”, de autoria de Márcia X., que em 2006 teve de ser retirada por censura, em uma exposição do CCBB, no Rio de Janeiro. Para saber mais sobre o caso, veja os inúmeros artigos a respeito, clicando aqui.
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Quanto à questão, ela é a seguinte: A censura foi correta ou abusiva? Fundamente a sua resposta.
Abs,
Lycurgo

Da Doença do Artista, do Escritor e do Filósofo


Há poucos anos, foi publicada em alguns jornais e também no meu blog "Crônicas de Tassos Lycurgo", a crônica "Da Doença do Artista, do Escritor e do Filósofo", que tangencia algumas questões já tratadas na nossa disciplina. Reproduzo abaixo a crônica, para que os que quiserem possam lê-la e, eventualmente, colocar os seus comentários.

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Da Doença do Artista, do Escritor e do Filósofo

Tassos Lycurgo
(http://www.lycurgo.org/)


Todo escritor é doente. Todo artista é doente. Todo filósofo é doente. Falo dos verdadeiros, que são pessoas para cujas sobrevivências é necessário mais do que outros precisam para simplesmente existir: aqueles precisam do inútil, do que não tem préstimo ou serventia alguns, como a arte, a literatura e a filosofia.


A arte é inútil. A literatura é inútil. A filosofia é inútil. Se a primeira faz pessoas verem a vida melhor, se a segunda faz pessoas passarem o tempo com alguma nobreza e se a terceira faz homens e mulheres defrontarem-se com problemas de suas existências é que essas atividades estão sendo tomadas não como tais, mas como instrumentos de uma espécie de psicoterapia ocupacional. Arte enquanto arte, literatura enquanto literatura e filosofia enquanto filosofia não têm serventias, senão a de ocupar um vazio, um vácuo, uma lacuna que misteriosamente aparecem no coração de poucas pessoas: os artistas, os escritores e os filósofos.


Se eu não tivesse tanta preguiça de fazer entrevistas e de produzir as suas estatísticas, sairia por aí com uma prancheta perguntando a todo mundo se precisam do inútil para viver. Aposto que encontraria noventa e nove vírgula nove por cento de pessoas que não precisariam do que não tem serventia. Do outro lado, na parcela insignificante da humanidade, estariam os doentes, para os quais é inevitável não se contentar com os limites impostos pela condição da humanidade. Eles precisam existir como humanos sonhadores. Se soubéssemos o que passa na cabeça do sonhador, teríamos até certo constrangimento de caminhar na rua, deixando claro que um jardim mal cuidado e um ar poluído bastam para a nossa sobrevivência.


Para a maioria de nós, basta o pão, a água e alguma distração eventual das coisas reais. Com isso, estamos felizes e vivemos, simplesmente. O artista precisa de mais e, quando consegue, logo vê que aquilo que conseguiu nada lhe trará senão, com muita sorte, alguma fidalguice, mas nunca alguma plenitude. O escritor tem a sua obra, mas não sabe como lidar com o que quis dizer e não disse. O filósofo, como já o escreveram uns, é aquele que não sabe usar a linguagem: fica por aí, criando palavras em línguas mortas (o grego clássico é a preferida) para, depois, debruçar-se sobre o significado que pode ter uma palavra que simplesmente não existe e que ninguém a usa fora do espaço estranho que é criado pelas paredes de uma sala de aula de um curso de filosofia.


Da perspectiva prática, a situação também é doentia, pois escrever é, na realidade, um verdadeiro tédio: é procedimento que muito se estende, quase não acaba nunca e, quando pensamos que está terminado, é hora de jogar tudo fora e começar de novo. Nunca um texto está pronto e nunca estará, mas aquelas horas dedicadas ao que não bem se sabe o que não serão jamais recuperadas. Escrever, nesses termos, é como montar quebra-cabeças ou comer cavaco chinês: apenas uma forma de passar o tempo, de ficar mais velho. Mesmo assim, o escritor, por mais que tente, não consegue deixar de escrever.


Há, ainda, o perigo da esquizofrenia acometer o artista, o escritor e o filósofo. Não raramente, verifica-se em tais pessoas sintomatologia que se manifesta em dissociações entre o que é real e o que é fictício. Muitos deles, inclusive, não são capazes de distinguir essas categorias, colocando de um lado o que pertence à realidade e, do outro, o que é próprio da ficção. Talvez por isso essas pessoas insistam em tentar comunicar algo proveniente de um mundo particular, não acessível. É isso! Eles são autistas que escrevem e produzem arte para comunicar aos da terra as modas interessantes do mundo deles, mas, paradoxalmente, nunca conseguem, pois o limite entre o mundo de fora e o de dentro é mais alabirintado e confuso do que o que possamos imaginar.


De tudo, uma coisa é certa: o artista, o escritor e o filósofo produzem a sua obra para que possam, da perspectiva das suas próprias existências, sentir-se vivos e, em certo grau, livres de suas doenças. É, em resumo, a recorrente tentativa de cura impossível para uma deliberada manifestação de incompletude de si mesmo. É tão triste a incompletude em quem nunca se sentirá pleno. Ninguém, talvez, devesse sentir necessidades que não tivessem uma finalidade prática, pois os que a sentem corroem-se e se consomem. Melhor seria se todos, indistintamente, fôssemos como as plantas, aquelas bem rústicas, que nem de água muito precisam. Vivem e pronto: o resto é extravagância.