quarta-feira, 23 de abril de 2008

Décima Sexta Questão de 2008.1: O Amor

O tema de discussão tanto da última quanto da próxima aula foi e será o amor. Particularmente, escrevi algumas palavras a respeito (v. blog "Crônicas de Tassos Lycurgo"), as quais reproduzo abaixo. Gostaria, contudo, que vocês refletissem mais sobre a questão e pensassem se é possível para a arte dizer o que é o amor ou, do contrário, o máximo que ela pode fazer é mostrá-lo. Naturalmente, é preciso que você use a distinção entre dizer e mostrar, construída em sala de aula.

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O Amor
Por Tassos Lycurgo

Cicinho e Cicinha nasceram na serra. Dia, noite e mais outros tantos. No fim de tudo, Seu Ciço, setenta de seis; Dona Ciça, sessenta e oito; ambos, somados, mais de quatro mil. Ei-la, inconfundível, a aritmética da vida: é o tempo que passa menos aqui do que acolá, na esquina do outro lado da rua, onde está toda a matemática que importa. Dos dezenove filhos de Dona Ciça, sobraram sete. Dos outros doze, há tanto de se contarem mortes de doença quanto de ruindade. Dos que ficaram, cinco são bons; dois, cabras-de-peia mais brabos que onça e mulher sem muito estilo juntas: um exagero sem exageração visto que é verdade.

Seu Ciço é mais que muito feliz, felicíssimo. Dona Ciça, também, talvez. Ela não mostra muita emoção, é taciturna demasiadamente Cariri. Seu Ciço faz muito pois é agricultor. Planta. Planta. Planta. Colhe: uma vez para três, mas não reclama não. Planta na serra mesmo, tudo inclinado: o terreno, a plantação, a chuva, o chapéu de palha, a enxada e o pensamento. Pensamentos inclinados poderiam tornar o mundo todo de ladeira: nada reto, que dá sono demais e não serve muito.

Dona Ciça fica em casa e trabalha nas coisas pequenas mas mais que grandes: costura, cozinha, cuida das crianças, ora aos montes, que ficam e que vão. Cria as que consegue com seu código particular de entender a vida: café, farinha, feijão, cuscuz, batata, algum frango e o resto é apenas moralidade inata. Certa vez mandou o menor, de quatro anos há pouco cumpridos, deixar a marmita na roça para o pai comer. Foi, subiu a serra, mas fez tarefa pela metade, pois voltou e disse para mãe que tinha visto cobra jararaca no caminho. Não matou?! Perguntou-lhe Dona Ciça, quem, em face da negativa, mandou que voltasse e matasse pois quem já se viu deixar marmita e, na volta, não matar bicho peçonhento. Criança de quatro anos, dentro dos cinco, já devia saber disso.

Seu Ciço e Dona Ciça envelheciam mais e mais. Nunca tiveram aqueles questionamentos do subsolo, chamados de metafísicos pelos estranhos. Nunca, nem uma vez quando conversavam. Chegaram, é verdade, a pensar de onde vem o vento, mas logo sentiram que o movimento é a essência de tudo que está na serra. Na ladeira tudo corre para baixo. Era o Heráclito de hoje e, com base no espaço ladeirento explicava do sol ao sono e mais todas as palavras da letra esse e também das outras do alfabeto, exceto as da letra agá, que nem aparece no nome.

Certo momento, chegou o tempo de morrer dos dois. Seu Ciço foi antes. Morreu e pronto. Estava salvo há muito. Dona Ciça, logo no outro dia, teve raiva dele: deixou-a lá, depois de tanto sofrimento, tanta alegria e tanto cuscuz que fez quando tinha milho, que, graças a Deus, era quase sempre. Teve ódio, ira, rancor, raiva e tudo o mais de ruim que um coração frágil da serra suportaria. Maldisse Seu Ciço umas quinhentas mil vezes ou mais, se considerarmos o reflexo da velha que ora se fazia no açudinho que lutava contra filete de riacho que descia de uma nascente do alto da serra.

Uma semana depois, não tinha mais raiva. Dona Ciça tinha uma sensação estranha de pensar o que nunca pensara: a vida. Eram, nascendo na decrepitude, os pensamentos do subsolo. Quase oitenta anos mais que noventa e tudo assim tão rápido. Um dia, um ano, uma década, uma vida todinha, sem faltar quase nenhum pedaço. E aquelas reclamações e todos aqueles problemas impossíveis do tamanho da serra toda hoje cabiam juntos em qualquer um desses buracos da parede.

Dona Ciça entendeu a vida para começar a morrer aos poucos. Via a ladeira da serra e, com base na inclinação, não conseguia explicar o que tinha acontecido com ela: a vida vivida todinha sempre sem explicação. Sempre o fundamento da realidade ladeirenta lhe fora suficiente para tudo o que existia — menos para a existência de tudo — e, agora, além de Seu Ciço ter abandonado a vida e a serra, a própria ladeira da serra abandonava Dona Ciça e não mais explicava o mundo.

Respirou, respirou mais uma vez e a última: então também morreu. Nunca, até agora, alguém havia contado a história deles, que é uma história, apenas, sem outras coroas senão a maior de todas: a de conseguir mostrar o que a linguagem, com suas palavras desesperadas, não poderia dizer, pois é inexplicável até pelas ladeiras de todas as serras, mas que está presente naqueles cujas vidas são como os poemas que apenas por trás das tintas das palavras e das celuloses dos papéis denunciam o verdadeiro amor. De Seu Ciço e Dona Ciça, restou a comprovação de que o amor, assim como tudo o mais que é pensamento do subsolo, não é dizível, mas apenas pode ser mostrado para os que já o sentem e silenciam no sofrimento de viver com a maior sina da nossa linguagem: a de apenas poder dizer o que é verdadeiramente desimportante e medíocre e que, portanto, muita vez nem precisaria ser dito.

28 comentários:

Anônimo disse...

Gostaria, contudo, que vocês refletissem mais sobre a questão e pensassem se é possível para a arte dizer o que é o amor ou, do contrário, o máximo que ela pode fazer é mostrá-lo. Naturalmente, é preciso que você use a distinção entre dizer e mostrar, construída em sala de aula.

Crônica – Amor- Por Tassos Lycurgo

Não.
Porque é impossível se pensar em arte e dizer o que é o amor. Porque ele não dizível. Para tal, resposta será necessário algumas distinções entre “dizer” e “mostrar”. A palavra “dizer” implica em cruzar pontos de vista diferentes, que dão vida, plasticidade e densidade às situações humanas vividas por todos nós. Dessa forma, “dizer” significa uma combinação de palavras que não faz sentido e a exclui da esfera da linguagem humana limitando-se a linguagem. No entanto, é na habilidade de "dizer” que se encontram os recessos da cultura de encenar e de “dizer” histórias. Ao passo que o tempo não é algo meramente representado, mas sim, o que se "trabalha" com as relações humanas permitindo-se que sejam reinterpretadas, reescritas e modificadas. O “mostrar” é mais cinematográfico e “dizer” exige técnica.
Pode-se falar que a arte é sentimento de amor. Sendo um sentimento de amor, contribui para o engrandecimento do homem. A arte humaniza, contribui para uma relação social profunda e verdadeira. Entendendo que o artista procura as expressões de beleza infinitas. Penso que todo homem busca seguir os caminhos da verdade e do amor e contribui para ser um indivíduo elevado espiritualmente. O artista, necessariamente, não revelam uma alta elevação moral. Muitas vezes, mas sabendo que a nossa elevação espiritual se processa paulatinamente, muitas vezes nem se percebe a total coerência entre a capacidade artística de um homem e a sua evolução moral. Mas sabe-se também que, sendo a arte uma manifestação do sentimento e da sensibilidade, conduzirá o artista a transformações. À proporção que vai criando, ele vai sendo tocado pela beleza e pela força da arte que ele expressa.
Assim, o amor é um sentimento que permeia as relações, com direitos iguais, com poder igual para todos os lados: eu e o outro. O amor inclui, além da bondade, a verdade. Mas, é no silêncio que reside os limites da fala no interior de cada um de nós.
Portanto, pode-se dizer que um dos papéis que denunciam o verdadeiro amor está nessa assertiva, que diz assim: “De Seu Ciço e Dona Ciça, restou a comprovação de que o amor, assim como tudo o mais que é pensamento do subsolo, não é dizível, mas apenas pode ser mostrado para os que já o sentem e silenciam no sofrimento de viver com a maior sina da nossa linguagem: a de apenas poder dizer o que é verdadeiramente desimportante e medíocre e que, portanto, muita vez nem precisaria ser dito”.
Dessa forma, pode-se dizer que “O amor e a arte não abraçam o que é belo, mas o que justamente com esse abraço se torna belo" Karl Kraus. No entanto, parece paradoxal “o Amor e arte caminham de mãos dadas um sente e o outro representa a caminhada”.

Jucélia Maria Emerenciano Rodrigues
Matrícula 200007811

Anônimo disse...

A arte, e qualquer outro saber humano, é incapaz de dizer o que é o amor; no máximo, poderá mostrá-lo.
Desde Platão, em o Banquete, tentativas foram empreendidas com o intuito de dizer (decifrar) o amor. E até hoje, não sabemos defini-lo a contento. Penso que quem mais se aproximou de uma definição convincente foi S. João ao Dizer que o amor é Deus.
Essa dificuldade toda reside no fato de a linguagem ser incapaz de expressar a totatilidade dos pensamentos, não sendo, portanto, um instrumento idôneo, hábil em se tratando dos pensamentos subterrâneos. E sendo a arte uma manifestação lingüística esta sujeita a essas limitações.
A linguagem é incapaz de dizer mas é capaz de mostrar as verdades do subsolo. Assim, existem coisas que consiguimos dizer e outras, apenas mostrar. Portanto, "sobre o que não se pode falar, deve-se calar", ou no máximo, mostrar.
Ricardo Wagner de Araujo 200710893

Anônimo disse...

dizer o que é o amor a arte não vai conseguir de forma alguma o maximo que ela pode fazer é tentar mostrar algumas demonstrações do amor conhecidas por nós em nossas relações sociais e afetivas.
Norberto mat 200611283

Edson Lima disse...

O amor. Mas, o que é o amor?
É. Não dá pra dizer o que é o amor.
O amor pode no máximo ser mostrado. Como no filme.
O amor de Alfredo é mostrado através de ações que vão desde a renúncia a amizade do amigo, à tentativa de manter o garoto distante daquele pequeno mundo. O amor do garoto pela sua mãe parece ter menos importância, já que numa passagem do filme, quando a mãe manda Toto descansar ántes do funeral, ele afirma: "não precisa. É apenas uma hora de vôo." Quer dizer, tão próximo, mas, mesmo assim, ele preferiu seguir o conselho do Alfredo de não olhar para trás, não voltar à sua vidinha medíocre. Outro amor mostrado é o amor de ambos, pela instituição cinema, bem como pelo próprio prédio do cinema, carregado de sentidos emocionais. Pra concluir, o amor proibido, em forma de beijos que eram censurados e que, ironicamente, Toto só pôde ver, após a morte do amigo Alfredo. Várias visões do amor, mostradas através de uma obra de arte como "Cinema Paradiso".

Edson Lima
200606239

Anônimo disse...

O amor é algo de único.

Mesmo o homem possuindo centenas e mais centenas de técnicas de expressão, ainda não poderá reproduzir perfeitamente o amor que uma mãe sente pelo filho, o olhar do primeiro amor ou a cara que fazemos ao encontrar um amigo que há anos não vemos.


Daniel Eric Sonehara Muller
200606220

Anônimo disse...

Acredito que nada nem ninguém possam dizer de forma satisfatória o que é o amor.Ele é um sentimento que se traduz em ações, e como tal só pode ser sentido e "visto"...Por isso quando a arte mostra exemplos deste sentimento, as pessoas reconhecem e reagem de acordo com suas experiências sobre ele.

CAROLINE MICHELLE FIGUEIREDO PEREIRA
200606174

claudia maldonado disse...

Não acho que a arte tenha o privilégio de mostrar o que é o amor, mas ela tenta. Dizer, usando a linguagem das imagens e das cores, é uma tentativa vã registrar para a posteridade um momento condensado de um sentir.
A arte enquanto linguagem tem a pretensão de apenas existir por um tempo, independente do que se lê onde não há palavras.
Os códigos usados por cada artista são pessoais é únicos para cada obra. Tudo é semelhante, mas não é igual.
A arte tenta sinalizar, através de seus diversos meios, o "como" deve ser amar porque "o que è" fica pra outra linguagem.
Meu desafio é: feche os olhos e pense no que é amor. Surgiu alguma imagem? Se sim, então é porque a arte é capaz de MOSTRAR como VOCÊ vê o amor!!!

claudia maldonado disse...

Jucélia, sua fala muito me incomoda porque arte é PENSAMENTO + AÇÃO + REFLEXÃO. As vezes o simples é muito mais difícil de um entendimento. Estamos desde a descoberta de Lacaux tentando dizer o que algumas pessoas só queriam mostrar.
È a linguagem "moderna" se mostrando incapaz de traduzir uma particularidade sem generalizar.

Anônimo disse...

Anna Débora Cosme da Silva
200606158

Eu acredito que a arte não é capaz de dizer o que é o amor, porém se dizer assume o sentido de "supor, imaginar, ter opinião"(dicionário) aí sim ela pode dizer, porque todos temos como supor ou imaginar como é o amor e a partir dessa opinião representá-la em forma de arte.
Mas de acordo com a distinção da aula não é possível não.
Me contradizo dizendo acima que poderia sim, mas deixo claro que não é minha opinião mas sim uma reflexão sobre a denominação da palavra.
O amor é muito difícil de ser dito. As pessoas dizem "amar é estar com o outro, é ser companheiro, é aceitar as diferenças..." Mas ninguém realmente diz o que é o amor, é como a arte ninguém diz o que é arte, são coisas totalmente diferentes e no entanto tem o mesmo problema: não podem ser ditas!
A arte pode apenas mostrar o que é o amor, ou então tentar como disse Cláudia, mas dizer não.
É a minha opinião mas não é diferente da do resto da turma, por isso fica repetitivo!

Unknown disse...

De acordo com o texto o casal, Dona Ciça e Seu Ciço conseguem VIVER um pelo outro devido á cumplicidade e o afeto verdadeiro que um tem pelo outro.
A arte tem em sua expressão uma vida, ela pode dizer o que o amor significa ou simplesmente mostrar-lo de acordo com a sua “obra”. Também como a arte, o amor representa um sentimento forte e intenso em que se tem e se dar por alguém ou por algo, é verdadeiro “ao que se mostra”, mesmo com dificuldades, mas ambos os enfoques conseguem transpor aos obstáculos.

ANDREIA MELO
200610597

Anônimo disse...

Rodrigo de Paula Pessoa Freitas
200710907

Não creio que o amor possa ser esgotado pelas palavras ou completamente compreendido através da exibição artística. Dizer, como leva a crer Foucault em "As palavras e as coisas", o que é dito através da linguagem ou mostrado através da arte está limitado a épistèmé e contexto histórico. Porém o simples prazer em tentar esgotar o amor através de palavras e através de arte já contribui para que, de uma forma ou de outra, o esforço seja extremamente válido e justificado.

carla souza disse...

O amor...
Algo essencial na vida de qualquer pessoa, algo extremamente bonito mas dificil de ser explicado, foi feito para ser sentido.
Dizer o que é o amor é algo impossivel pois cada pessoa ama de uma forma, a arte tem o poder de mostrar o amor, de nos tocar ao tentar falar o q é o amor, conseguimos sentir, entender mas jamais explicar.
Nos filmes passados em sala de aula e na historia que lemos,podemos compreender, sentir, se identificar, mas nao poderemso dizer quem ama mais, quem ama correto pq o amor é um sentimento e o sentmento é para ser sentido nao explicado.


Carla Souza
200610619

L.A.G. disse...

As pessoas sentem uma necessidade incrível de entender as coisas... Resumindo tudo a um patamar inteligivel;
Mas tem coisas que não precisamos saber ao certo, nem precisamos de palavras para traduzi-las, basta sentir.
O amor e ódio são companheiros inseparáveis, Dona Ciça sentiu tanto ódio de Seu Ciço depois que ele morreu, pq ela não queria se separar dele nunca. E no filme "Cinema Paradíso" o amor se mostra em suas mais diversificadas faces, sem a necessidade do dizer literal.
O amor é um sentimento que se mostra sem a necessidade de dizer.

LEANDRO ALVES GARCIA
200606310

Anônimo disse...

A arte tem várias qualidades, mas como qualquer outra coisa não é perfeita. Ela não é capaz de dizer o que é o amor. Nem a filosofia é capaz, apesar de ter definições para o assunto. Seres humanos tem uma terrível dificuldade de apreciar seus sentimento, imagine definir.
A arte só é capaz de mostra o amor. Através dos mecanismos que a arte oferece. Esse assunto é muito complexo.Infelizmente!!!

Ana Paula Almeida de Oliveira
200610589

Anônimo disse...

A palavra é dom do homem. Animais não as articulam. Por isso o homem busca sempre entender tudo por ela, pois é o que o faz racional. Mas só podemos entender através da palavra aquilo que é prático, objetivo, concreto, pois a palavra é linear e não dá margem a grandes subjetividades. Branco é branco. Preto é preto. Cinza é outra coisa. Entretanto, não podemos negar o poder da palavra como estimulador de imagens. É impossível não se remeter a imagens quando ouvimos um Vinicius de Morais dizer:"De tudo ao meu amor serei atento, e sempre, e com tal zelo e tanto, que mesmo em face do maior encanto, dele se encante mais meu pensamento..." Sim, é possível à arte dizer do amor, mas o que é o amor, alguém sabe dizer? Para mim amor é vida. Vida é amor. Como o título do livro de Brian Weiss, acredito que "Só o amor é real", mas isso diz tudo? E quanto a mostrar, existe a máxima de que "uma imagem fala mais do que mil palavras" e muitas vezes temos essa experiência de "apreender" uma idéia através de uma imagem que a represente. Qunado vemos uma foto de uma mãe amamentando seu filho, ninguém tem dúvida a respeito do amor. Então concluo entendendo que a arte pode tanto dizer quanto mostrar do amor, mas o que é o amor é uma experiência absolutamente pessoal e intransferível.

Isis de Castro.
200610651

Anônimo disse...

Não sei se é possível para a Arte dizer o que é o amor, ah! Se pudesse!, mas acredito que ela pode fazer mais que mostrá-lo. A Arte é o pensar do artista, seus desejos e anseios, o que ele sente ao concebê-la, muitas vezes só em idéia, quando em sua solidão faz reflexão daquilo que nem ele mesmo consegue dizer o que está em sua mente. Mesmo a Arte tendo todos esses envolvimentos, não consegue dizer o que é o amor.
Mostrar é distinto de dizer, seus próprios significados já os dizem. Mostrar pode ser entendido através de gestos, de emoções, como por exemplo, o choro, o grito, quando se quer se mostrar para alguém. Já a complexidade e aprofundamento da palavra dizer, que acredito que todo dizer é indizível, é querer fazer o outro entender o que se quer transmitir, mas o que quase sempre acontece é que não se diz. O que não se consegue dizer. O dizer não tem entendimento.
O Amor está acima dos mostrares e dizeres.
200606360 Vera Lúcia das Chagas Faustino Alves

Anônimo disse...

VANESSA KALINDRA LABRE DE OLIVEIRA
MAT: 200717600

O “falar” sobre o amor, o “dizer”, ou, no entanto, o “mostrar”, na verdade são duas formas de expressão que costumamos por herança histórica dualizar como distintas, aquela velha discussão da dualidade corpo e mente que os estudos contemporâneos estão tentando romper ao pensar a unidade do corpo (que também é mente!) através da corporeidade.
Se a linguagem é incapaz de dizer o indizível, de abarcar tamanho fluxo de referências e simbologias, eu acredito que a arte, enquanto corporal e, absolutamente, como linguagem corpórea e simbólica, também não é capaz de exemplificar aquilo que arrebata o corpo em completude.O que me estimula, no entanto, é o processo de experimentação que o artista consegue manter com sua ansiedade e sentimentos. O que seria compreendido como objeto artístico é quase sempre uma instalação de rumores, silêncios, sentimentos híbridos, fragmentos lingüísticos (seja ele de que origem for).
Logo, eu acredito que o artista esteja sempre em processo na busca de expor o que lhe consome, seja através do falar ou do mostrar.

“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente”.
(Clarice Lispector)

Anônimo disse...

Como dizer ou mostrar algo que é abstrato??
Não só para a arte, é impossível para tudo aquilo que busca expressar “algo”, dizer o que é amor. Expressar qualquer coisa abstrata é impossível. Como dizer o que é alguma coisa, que só “existi” quando escrita ou quando é dita? Uma coisa que não pode ser vista ou tocada! Que gosto tem o amor, que cheiro tem o amor? Só podemos nos referir a algo que efetivamente exista.
A arte também não mostra o amor. Muitos acham que desenhar um coração infantilóide é uma representação do amor. Isso não é nada mais que uma representação caricata de um órgão humano. Como eu vou mostrar algo que não se pode ver?? Arte é um modo de expressão que faz uso apenas do visual, a arte mostra algo por meio de representações gráficas, algo que, mais uma vez, efetivamente exista.
O que é o amor?
Simples, é apenas uma palavra.
Diogo
200505006

Anônimo disse...

Um artista pode até mostrar o amor escrevendo ou dizendo a palavra amor, mas isso seria considerado arte?
Diogo
200505006

Anônimo disse...

Penetrar no sentido último, no âmago de um conceito tão complexo e tão vago quanto o amor realmente não é tarefa das mais simples. A incapacidade de nossa linguagem de reproduzir o real, o palpável, que já é bastante patente, se agrava quando partimos para concepções mais etéreas. Não consigo conceber artífice ou ferramenta que possa penetrar de maneira objetiva o âmago da questão desnundando-a por inteiro. O que a arte pode e se propõe a fazer é mostrar o que pode vir a ser o amor sob o prisma de determinado autor.

Camila Maria Grazielle Freitas
200717430

Anônimo disse...

Arte e linguagem possuem suas limitações à não totalidade do desvelamento do que se pode extrair acerca do pensamento.A obra de arte assim como tudo que está solto na espacialidade está sujeito ao relativismo e ao poder de assimilação de cada indivíduo,dito isso acredito na possibilidade de através da arte alguém ser tocado (porque não?)e identificar nesta a presença de alguma representação do que é o amor.

Anônimo disse...

A resposta acima pertence à
Thais Henrique Ferreira
Mat.200611062

Anônimo disse...

ANDRÉ LUIZ RODRIGUES BEZERRA
MAT. 200717405



Não sei realmente se a arte seria capaz de dizer ou mostrar o que é o amor. Não sei sobre o dizer porque a arte é elaboração de planos de enunciação que não foge daquilo que seria o indefinível campo lexical da Linguagem, muito embora se defina num outro plano de discurso, qual seja, o estético, que traz em sua base a subversão dos signos trabalhados em busca de uma organização expressiva (o que quer que isto seja e quando o seja. Sem imperativos categóricos), o que embora parta de um princípio inicial de resignificação dos elementos trabalhados não deixa de estar, com base nos estudos semiológicos, conectado ainda a um referente lingüístico, sobrecarregado pelas conotações articuladas, porém ainda possível através do próprio objeto que é apresentado, considerando claramente que o pensamento que se debruça sobre a reflexão da arte também é um fazer-artístico. O que me leva a pensar que a incapacidade clara do dizer em lidar com o amor, (fato do qual todo ser humano é boletim de ocorrência), não seja neutralizada no discurso artístico.
Em segundo lugar o mostrar que também é uma forma de dizer, assim como o oposto é passível de afirmação, não se desvencilha do discurso, referente, enunciação e parafernália-tudo que somos enquanto sujeitos performativos presentes na obra (como artistas ou audiência), antes na verdade o que o mostrar realiza é um espaço de intensificação, que se maior ou não que o do dizer não sei, onde o sentir é mais aceito que o compreender, o que não faz do mostrar, assim como do dizer, senão uma forma diferente de dizer o que não se pode mostrar e mostrar o que não se pode dizer, pois o discurso cotidiano assim como o estético se constituem sobre um Falta irrevogável, a lacuna aberta e à beira um mundo que se ri (para quem?).

OBS: Não sei realmente se isto é a subversão estética do que gostaria de dizer ou mostrar quando comecei este dizermostrar.

Anônimo disse...

Alex Fontes
200606140

Questão profunda, realmente.

Ao meu ver, dizer e mostrar são possíveis de se TENTAR através da arte. Nesse caso, dá na mesma. Tudo vai ter de passar por filtros e lentes, de natureza cultural, racional, cognitiva, blablabla...

O verdadeiro "mostrar" do amor é como a água. Sempre procurando meios de menor dificuldade e atrito, contornando os obstáculos. E esses meios certamente não são as palavras ou a arte, pois só quem entenderia (creio eu) seria alguém que já amou, através de correlações e analogias. Mesmo assim, seria algo indutório e/ou altamente carregado de subjetividade.

Para mostrar a alguém que nunca amou o que é o amor, só há um caminho "sem atrito e obstáculos" para a compreensão: amando-o.


Diogo, uma pergunta: pra você, o que é arte? Não entendi bem.

redpoio disse...

Impossível, é aquela questão de dizer o indizível, onde a arte tem vantagem sobre a filosofia, mas nem ela é eficiente o suficiente para descrever exatamente do que se trata o amor, o que se pode fazer no máximo e tentar transmitir, mostrar algumas das emoções que fazem parte do amor, gestos ou obras que possam lembrar a sensação de amar, nisso a arte é mais eficiente que a filosofia, mas quanto ao amor é tão incompetente quanto qualquer outra tentativa.

Milton Cobe
200606336

Anônimo disse...

Aí vai meu comentário

O amor se manifesta na Arte em suas diversas linguagens.
A música TOCA nossos sentidos. Fala de uma paixão, de um amor perdido, de um amor não correspondido, etc. Já o teatro REPRESENTA as várias formas de amar. Na dança, o amor é revelado pelas EXPRESSÕES gestuais do corpo. Nas Artes Visuais o amor é MOSTRADO através da escultura, do cinema, da pintura, etc. Observamos que sendo um sentimento, o amor só pode ser sentido. Precisamos de algo mais do que os cinco sentidos que temos como ouvir, falar, ver, tocar e saborear. Faz-se necessário estarmos com a mente e o coração aberto para receber-lo. Cicinho e Cicinha viveram esse sentimento, ele não pode ser dito, foi observado por outros que contaram sobre esse amor, mas só eles tiveram o privilégio de –naquela situação- usufruí-lo. Penso que o amor, como qualquer outro sentimento, não pode ser dito. Nem pela arte, nem por ninguém, pois por mais que uma pessoa diga a outra que a ama, só através do gesto de compreensão, paciência, doação, ajuda, companheirismo, cumplicidade e fidelidade é que realmente o amor se manifesta.
Gostaria de citar um exemplo maravilhoso: Deus enviou Seu único Filho para morrer por nós, esse ato de Amor foi o maior de todos.

Conceição Oliveira
Matr. 200606204

. : Beleza é Essencial : . disse...

Sei que é tardio esse meu comentário, mas vou continuar assim messmo.

Afinal, o que é o amor?

Acredito eu que não tem como defini-lo, dizê-lo por completo, mas é possível mostrá-lo, sim. Apenas palavras não suprem certas coisas, porém a Arte tenta mostrar e em sumo mostra, o amor é uma delas (tenta). Acho que através da arte (não somente) é possivel sim mostrar o amor, gestos também sabem suprir a demonstração de amor. Poesias a parte, elas não apenas dizem, mas também mostram, quando uma poesia é demasiadamente amorosa, vemos e sentimos nela o amor sem menor dúvida.

Mas fica a duvida, mas será que realmente sabemos o que e o Amor? O Amor em si?

Sei que é clichê, mas a linguagem não alcança a dimensão do que é o Amor, contudo através da Arte Poetica é possivel dizê-la, mas como demostração, não como linguagem propriamente dita e dita.

Ver Vinicius de Moraes em "Ausência"

Ausência



Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.




Então fica ai, Isso.

Obrigada.

Beijos.

Pammela de O. Lisboa - 200611291

Yuri disse...

Bem, vamos entrar na questão das potências e impotências da arte novamente.
É fato que a arte, assim como outros tipos de discurso, se articula num sistema linguístico e sígnico. Dizer (discorrer sobre) não pertence, hoje em dia apenas ao campo da ciência e de outros discursos lineares, nem o mostrar (dar exemplo) pertence apenas à área "inexata" da vida, como as arte visuais, a poesia, a vida amorosa etc. Esses discursos não se distinguem claramente, há uma contaminação de um pelo outro que borra (pra dizer o mínimo) qualquer linha divisória entre os dois.
Mas levando em conta uma distinção clara, creio que a arte tanto é capaz tanto de mostrar quanto dizer. Não dizer "o que é" mas dizer "amor". Mostrar "o que é" algo (o amor, no caso) também cai em um relativismo insustentável. O sistema linguístico da arte, que é o estético, permite que ela diga e mostre sem precisar do objeto. A ação se justifica por ela mesma. A arte não está falando "sobre" o amor ou "mostrando" o amor. No momento que ela discorre, ela tenta se aproximar do objeto e fundir-se com ele.
Ou não, mas isso já é outra discussão que não entra no mérito de dizer e mostrar.
Yuri Kotke Cunha
Mat: 200717626